A Psicodinâmica do Trabalho de Christophe Dejours: Sofrimento e Prazer nas Organizações
- Autor: Julia Isabel Silva Nonato

- 4 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
A relação entre trabalho, sofrimento e prazer tem sido um dos principais focos da psicodinâmica do trabalho, abordagem desenvolvida pelo psiquiatra e psicanalista Christophe Dejours. Essa teoria busca compreender como os trabalhadores lidam com as adversidades do ambiente organizacional e de que forma transformam suas vivências laborais em fonte de sofrimento ou prazer. Em um mundo corporativo cada vez mais exigente, entender essa dinâmica é essencial para a promoção da saúde mental no trabalho e o desenvolvimento de ambientes mais humanizados.
Fundamentos da Psicodinâmica do Trabalho
A psicodinâmica do trabalho se diferencia de outras abordagens da psicologia organizacional ao analisar o papel do sofrimento psíquico no trabalho. Segundo Dejours, o sofrimento não é apenas um efeito colateral das condições laborais, mas um fenômeno central na experiência profissional. Ele pode se manifestar de diversas formas, como estresse, ansiedade, fadiga e esgotamento emocional.
A abordagem enfatiza dois aspectos principais:
O sofrimento no trabalho: Surge quando há um desequilíbrio entre as exigências da atividade e os recursos disponíveis para enfrentá-las. Excesso de carga, pressão por resultados e falta de reconhecimento são fatores que amplificam o sofrimento.
A transformação do sofrimento em prazer: Quando o trabalhador encontra estratégias para lidar com desafios e supera dificuldades, o sofrimento pode ser ressignificado, resultando em satisfação e crescimento profissional.
Sofrimento Patogênico x Sofrimento Criador
Dejours diferencia dois tipos de sofrimento no trabalho:
Sofrimento patogênico: Ocorre quando as adversidades do ambiente laboral são excessivas e impossíveis de serem superadas. Isso pode levar a quadros de burnout, depressão e outras doenças ocupacionais.
Sofrimento criador: Surge quando os desafios são enfrentados com estratégias eficazes de adaptação, permitindo que o trabalhador desenvolva novas habilidades e encontre sentido em suas atividades.
O equilíbrio entre sofrimento e prazer no trabalho está diretamente ligado ao reconhecimento, ao suporte social e à possibilidade de autonomia no exercício profissional.
O Papel da Gestão e da Cultura Organizacional
As práticas de gestão têm papel determinante na experiência dos trabalhadores. Algumas estratégias para minimizar o sofrimento patogênico e potencializar o prazer no trabalho incluem:
Valorização e reconhecimento: O reconhecimento do esforço e da dedicação do trabalhador contribui para a ressignificação do sofrimento, tornando-o um fator de crescimento.
Autonomia e participação: Permitir que os trabalhadores tenham autonomia e voz ativa nas decisões organizacionais favorece um ambiente de maior engajamento e realização profissional.
Criação de espaços de escuta: Ambientes onde os trabalhadores podem expressar suas dificuldades sem medo de retaliação ajudam na elaboração do sofrimento e na busca por soluções coletivas.
Saúde e bem-estar organizacional: Investir em políticas de bem-estar, como programas de apoio psicológico e incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional, reduz os impactos negativos do sofrimento no trabalho.
O Coletivo de Trabalho como Mediador
Dejours destaca que o coletivo de trabalho tem um papel fundamental na transformação do sofrimento. A solidariedade e o compartilhamento de experiências criam um espaço de apoio e resistência frente às adversidades organizacionais. Quando há um sentimento de pertencimento e cooperação, os desafios são enfrentados de maneira mais saudável e coletiva.
Considerações Finais
A Psicodinâmica do Trabalho de Christophe Dejours nos ensina que o sofrimento e o prazer fazem parte da experiência laboral, e que o modo como esses elementos são administrados define a qualidade de vida dos trabalhadores. Organizações que priorizam o reconhecimento, a autonomia e o suporte coletivo favorecem ambientes onde o sofrimento pode ser ressignificado e transformado em fonte de prazer e realização.
Dessa forma, gestores e profissionais de RH têm o desafio de criar condições que minimizem o sofrimento patogênico e incentivem formas saudáveis de lidar com as exigências do trabalho. Apenas com essa abordagem humanizada será possível promover organizações mais saudáveis, produtivas e sustentáveis.
Referências
Dejours, C. (1987). A loucura do trabalho: Estudo de psicopatologia do trabalho. Cortez.
Dejours, C. (1993). O corpo entre a medicina e a psicanálise. Papirus.
Dejours, C. (1999). Sofrimento no trabalho: Abordagem psicodinâmica. Cortez.
Dejours, C. (2004). Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Fiocruz.
Dejours, C. (2012). Trabalho e subjetividade. Cortez.




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