A Teoria das Necessidades de Maslow no Trabalho: Uma Revisão Crítica de suas Aplicações nas Organizações Contemporâneas.
- Autor: Julia Isabel Silva Nonato

- 10 de set. de 2024
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Resumo: A Teoria das Necessidades de Maslow, uma das mais influentes no campo da psicologia organizacional, propõe uma hierarquia de necessidades humanas, onde necessidades mais básicas devem ser atendidas antes de necessidades mais complexas. Este artigo revisita a aplicação dessa teoria no contexto das organizações contemporâneas, com foco em suas implicações para a motivação no trabalho, a satisfação e o desempenho organizacional. Através de uma análise crítica, discutem-se as limitações dessa teoria à luz das mudanças organizacionais e culturais, os desafios de sua implementação prática e as críticas recebidas em relação à sua universalidade e validade em contextos diversos. Ao final, propõe-se uma reflexão sobre como adaptar e integrar os princípios da hierarquia de necessidades de Maslow às práticas de gestão e liderança nas organizações atuais.
Palavras-chave:Maslow, necessidades humanas, motivação no trabalho, hierarquia de necessidades, gestão de pessoas, organizações contemporâneas.
1. IntroduçãoA Teoria das Necessidades de Maslow, apresentada pela primeira vez em 1943, sugere que as necessidades humanas podem ser organizadas em uma hierarquia que vai desde as mais básicas (como as necessidades fisiológicas) até as mais complexas (como a autoatualização). Esta teoria tem sido amplamente utilizada no campo da psicologia organizacional para entender a motivação no trabalho e o comportamento dos colaboradores. Contudo, à medida que o ambiente de trabalho se transforma, surgem questionamentos sobre a relevância e a aplicabilidade dessa teoria nas organizações contemporâneas. Este artigo revisa criticamente as aplicações da Teoria das Necessidades de Maslow nas organizações, avaliando suas limitações e os desafios encontrados na implementação dos seus princípios em contextos dinâmicos e multiculturais.
2. A Teoria das Necessidades de Maslow e suas Aplicações OriginaisMaslow (1943) propôs que as necessidades humanas são organizadas em uma pirâmide, que se inicia com as necessidades fisiológicas básicas e vai até a autoatualização, passando por necessidades de segurança, sociais e de estima. Essa hierarquia sugeria que os indivíduos não seriam motivados a atender necessidades mais altas, como a autorrealização, até que as necessidades mais básicas fossem satisfeitas. As cinco categorias da hierarquia de Maslow são:
Necessidades fisiológicas: Alimentação, água, abrigo, sono e outras necessidades biológicas essenciais.
Necessidades de segurança: Segurança física e emocional, estabilidade financeira, proteção contra riscos e doenças.
Necessidades sociais: Necessidade de pertencimento, amor, amizades e relações interpessoais.
Necessidades de estima: Reconhecimento, respeito, status e valorização.
Necessidades de autoatualização: Realização do potencial pleno, busca de crescimento pessoal e profissional.
Nas organizações, a teoria de Maslow foi usada para entender como a motivação dos funcionários poderia ser maximizada ao assegurar que suas necessidades fossem atendidas de forma progressiva. Por exemplo, salários e benefícios eram vistos como formas de atender às necessidades fisiológicas e de segurança, enquanto oportunidades de crescimento e reconhecimento atendiam às necessidades de estima e autoatualização.
3. Revisão Crítica das Aplicações da Teoria nas Organizações ContemporâneasA Teoria das Necessidades de Maslow tem sido amplamente adotada por décadas, mas sua aplicabilidade nas organizações contemporâneas foi amplamente debatida. A seguir, apresentamos uma análise crítica das principais questões relacionadas ao uso da teoria nas empresas de hoje:
Mudanças na dinâmica de trabalho e na sociedade: Com o avanço da tecnologia e a mudança nas dinâmicas sociais, as necessidades dos colaboradores podem não seguir a ordem rígida proposta por Maslow. A globalização e a diversidade cultural também indicam que as necessidades dos funcionários podem variar significativamente, dependendo de sua origem cultural, contexto social e até mesmo preferências pessoais (Hofstede, 2001). A teoria, portanto, pode não ser tão universal quanto Maslow sugeriu inicialmente.
Hierarquia rígida versus flexível: A principal crítica à teoria é que ela propõe uma sequência rígida de necessidades que não necessariamente se aplicam a todos os indivíduos. Estudos mais recentes sugerem que as necessidades podem ser simultâneas e podem não seguir uma ordem hierárquica tão clara (McLeod, 2007). Indivíduos podem buscar a autorrealização enquanto suas necessidades de segurança ou sociais não são completamente atendidas, desafiando a ideia de uma progressão linear.
Aplicação prática nas organizações: Embora a teoria tenha sido útil na motivação dos colaboradores, muitos críticos argumentam que ela é limitada em sua aplicabilidade prática. Organizações contemporâneas frequentemente enfrentam um ambiente de trabalho mais complexo, com múltiplos fatores influenciando a motivação e a satisfação. A teoria de Maslow não leva em conta fatores como liderança, cultura organizacional, condições econômicas ou a flexibilidade do local de trabalho (Robinson & Judge, 2019). Além disso, não aborda a motivação no contexto de mudanças rápidas e incertezas organizacionais.
A ênfase na motivação individual: Maslow concentrou-se nas necessidades do indivíduo, mas organizações modernas têm reconhecido a importância de fatores coletivos e culturais na motivação. As necessidades de pertencimento e de equipe, por exemplo, podem ser mais significativas para alguns colaboradores do que necessidades individuais de autoatualização ou status (Deci & Ryan, 2002). A teoria de Maslow não explora adequadamente essas dinâmicas coletivas.
4. Implicações para a Gestão de Pessoas nas Organizações ContemporâneasApesar das críticas, a Teoria das Necessidades de Maslow ainda pode oferecer uma estrutura útil para a gestão de pessoas, especialmente quando adaptada às novas realidades organizacionais. Algumas implicações para as práticas de gestão incluem:
Reconhecimento da diversidade de necessidades: Em vez de seguir uma ordem rígida, os gestores devem ser mais flexíveis ao considerar as necessidades individuais dos colaboradores. Isso pode envolver o desenvolvimento de programas personalizados que atendam diferentes níveis de necessidade de forma simultânea, levando em conta as variações culturais e pessoais.
Ambientes de trabalho mais inclusivos e colaborativos: Criar um ambiente onde as necessidades sociais de pertencimento e aceitação sejam atendidas pode ser uma prioridade em muitas organizações. Trabalhar no fortalecimento do relacionamento interpessoal e da comunicação pode ser mais eficaz do que focar unicamente em aspectos de autorrealização.
Desenvolvimento de programas de bem-estar holísticos: Programas de bem-estar no local de trabalho que abordem as necessidades físicas, emocionais e psicológicas dos colaboradores têm se mostrado eficazes para aumentar a motivação e o desempenho. A teoria de Maslow pode ser aplicada de maneira mais eficaz quando os gestores consideram as necessidades de todos os níveis, mas sem assumir uma hierarquia rígida.
5. ConclusãoA Teoria das Necessidades de Maslow tem desempenhado um papel importante no entendimento da motivação no trabalho e na gestão de pessoas. No entanto, à medida que as organizações se tornam mais complexas e diversificadas, a teoria enfrenta limitações em sua aplicação direta. A crítica à hierarquia rígida das necessidades e à suposição de que as necessidades humanas seguem uma ordem linear é válida, especialmente considerando as transformações nas dinâmicas sociais e no ambiente de trabalho. Contudo, adaptando-se às realidades contemporâneas e reconhecendo a diversidade das necessidades individuais e coletivas, a teoria de Maslow ainda pode oferecer insights valiosos para a criação de ambientes de trabalho mais motivadores e satisfatórios.
Referências
Deci, E. L., & Ryan, R. M. (2002). Self-determination theory and the facilitation of intrinsic motivation, social development, and well-being. American Psychologist, 55(1), 68–78. https://doi.org/10.1037/0003-066X.55.1.68
Hofstede, G. (2001). Culture’s consequences: Comparing values, behaviors, institutions, and organizations across nations (2nd ed.). Sage Publications.
Maslow, A. H. (1943). A theory of human motivation. Psychological Review, 50(4), 370–396.
McLeod, S. (2007). Maslow’s hierarchy of needs. Simply Psychology. https://www.simplypsychology.org/maslow.html
Robinson, S. P., & Judge, T. A. (2019). Organizational behavior (18th ed.). Pearson.




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