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O Paradigma da Subjetividade de González Rey e a Construção do Significado no Trabalho

  • Foto do escritor: Autor: Julia Isabel Silva Nonato
    Autor: Julia Isabel Silva Nonato
  • 23 de fev. de 2024
  • 5 min de leitura

O trabalho é uma dimensão central na vida dos indivíduos, não apenas do ponto de vista funcional ou produtivo, mas também como um campo de construção de significados pessoais e coletivos. A forma como os indivíduos percebem e atribuem significado ao seu trabalho tem profundas implicações para sua saúde mental, motivação, satisfação e desempenho organizacional. Nesse contexto, o Paradigma da Subjetividade de González Rey oferece uma abordagem relevante para compreender como o trabalho se torna um espaço de construção de significados, ao integrar dimensões psicológicas e sociais na compreensão da experiência subjetiva dos trabalhadores.

O Paradigma da Subjetividade, desenvolvido por Carlos González Rey, propõe uma compreensão da subjetividade humana como um processo dinâmico, relacional e em constante construção, que não pode ser reduzido a categorias fixas ou simplistas. Este artigo visa explorar como essa teoria pode ser aplicada ao campo organizacional, especialmente no que diz respeito à construção do significado no trabalho, entendendo o trabalho como uma prática social significativa, moldada pela interação entre o indivíduo e o ambiente.

Fundamentação Teórica: O Paradigma da Subjetividade de González Rey

O Paradigma da Subjetividade de González Rey (2002) propõe que a subjetividade humana não é um conjunto de características estáticas ou processos cognitivos isolados, mas sim um produto das interações sociais e das experiências vividas. A subjetividade é entendida como algo que se constrói no contexto das relações, sendo influenciada pelas condições históricas, culturais e sociais em que o sujeito está inserido. Dessa maneira, a subjetividade não pode ser entendida como algo meramente interno ou individual, mas sim como um fenômeno relacional, que emerge da interação entre o indivíduo e o contexto em que está inserido.

Segundo González Rey, a construção da subjetividade envolve processos de mediação, onde as experiências do indivíduo são constantemente reconfiguradas através das relações sociais e culturais. Esses processos de mediação são fundamentais para a formação dos significados que o indivíduo atribui a diferentes aspectos de sua vida, incluindo o trabalho. O trabalho, nesse contexto, não é apenas uma atividade funcional ou uma fonte de renda, mas um espaço onde o significado é constantemente construído a partir da interação entre o trabalhador, seus colegas, líderes e as normas organizacionais.

O Paradigma da Subjetividade, portanto, desafia abordagens reducionistas que buscam entender o comportamento no trabalho apenas a partir de parâmetros objetivamente mensuráveis, como produtividade ou eficiência. Ele propõe, ao contrário, uma abordagem que valoriza as dimensões subjetivas e relacionais da experiência de trabalho, permitindo uma análise mais profunda dos fatores que influenciam o engajamento, a satisfação e o sentido que os indivíduos atribuem ao seu trabalho.

A Construção do Significado no Trabalho: Um Processo Subjetivo e Relacional

A construção do significado no trabalho é um processo subjetivo que ocorre ao longo da vida profissional de cada indivíduo. Isso envolve a atribuição de valor, propósito e identidade ao trabalho, que é moldada pelas experiências pessoais, pelas interações sociais e pelas expectativas da organização e da sociedade. No Paradigma da Subjetividade, a construção de significado no trabalho é vista como um processo dinâmico, no qual o significado é continuamente reconstruído à medida que o indivíduo interage com o seu ambiente de trabalho e com os outros membros da organização (González Rey, 2002).

A partir dessa perspectiva, o trabalho não é simplesmente uma tarefa que deve ser cumprida, mas um espaço onde o indivíduo busca dar sentido às suas ações, relações e experiências. A maneira como os trabalhadores interpretam o seu trabalho, como ele se encaixa em suas vidas e em seus projetos pessoais, é influenciada por fatores como a cultura organizacional, o tipo de liderança, as condições de trabalho e as relações interpessoais. Essas interações, tanto no nível individual quanto coletivo, são fundamentais para a construção de significados compartilhados e para o desenvolvimento de uma identidade profissional.

A Subjetividade e a Identidade Profissional

A identidade profissional é um aspecto central na construção do significado no trabalho. Ela está relacionada ao papel que o indivíduo assume dentro da organização e ao modo como ele se vê em relação ao seu trabalho e à sua profissão. De acordo com González Rey (2002), a identidade não é algo fixo, mas algo que está em constante processo de construção, mediada pelas relações sociais e pelos contextos nos quais o indivíduo está inserido. No ambiente de trabalho, a identidade profissional pode ser construída a partir das interações com colegas, supervisores, clientes e outros stakeholders, assim como pelas oportunidades de desenvolvimento e reconhecimento dentro da organização.

A identidade profissional, portanto, está intrinsecamente ligada ao sentido que o indivíduo atribui ao seu trabalho. Quando um trabalhador encontra significado em sua função e sente que suas habilidades e contribuições são valorizadas, sua identidade profissional tende a ser positiva e sólida. Por outro lado, quando o trabalho é percebido como sem valor ou desconectado dos interesses pessoais e sociais do indivíduo, a identidade profissional pode ser fragilizada, o que pode afetar negativamente o bem-estar e a motivação do trabalhador.

O Papel da Cultura Organizacional na Construção do Significado

A cultura organizacional é outro fator importante na construção do significado no trabalho. A cultura de uma organização abrange os valores, normas, crenças e práticas que moldam o comportamento e as atitudes dos membros da organização. De acordo com o Paradigma da Subjetividade, a cultura organizacional é um elemento fundamental na forma como os indivíduos atribuem significado ao seu trabalho. Ela proporciona o contexto no qual as interações sociais acontecem e onde os significados compartilhados são construídos.

Uma cultura organizacional que valoriza a colaboração, a criatividade e o reconhecimento, por exemplo, tende a proporcionar um ambiente no qual os trabalhadores se sentem mais conectados com seu trabalho e com os outros membros da equipe, favorecendo a construção de significados positivos. Já uma cultura organizacional que enfatiza a competição desleal, a falta de apoio e a exclusão social pode contribuir para a construção de significados negativos, levando a uma experiência de trabalho alienante e desmotivadora (Schein, 2010).

Implicações para a Gestão do Trabalho e o Bem-Estar Organizacional

A aplicação do Paradigma da Subjetividade à gestão do trabalho tem várias implicações práticas. Primeiramente, ela sugere que as organizações devem levar em consideração as dimensões subjetivas e relacionais do trabalho ao desenvolver suas políticas e práticas de gestão. Isso inclui a promoção de ambientes de trabalho colaborativos, o apoio ao desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores e o incentivo à construção de significados positivos no trabalho.

Além disso, a teoria de González Rey destaca a importância de uma liderança que seja capaz de mediar as relações entre os trabalhadores, estimulando a construção de significados compartilhados e o desenvolvimento de uma identidade profissional positiva. Líderes que reconhecem e valorizam as subjetividades dos trabalhadores, incentivando a reflexão e o engajamento com o trabalho, podem criar condições mais favoráveis para o bem-estar e o desempenho organizacional.

Conclusão

O Paradigma da Subjetividade de González Rey oferece uma visão profunda e enriquecedora sobre como o significado é construído no trabalho. Ao reconhecer o trabalho como um processo subjetivo e relacional, que envolve interações dinâmicas entre o indivíduo e o ambiente, a teoria contribui para uma compreensão mais ampla dos fatores que influenciam a motivação, o bem-estar e o desempenho no contexto organizacional. As implicações para a gestão do trabalho são claras: para promover um ambiente saudável e produtivo, as organizações devem focar na construção de significados positivos e no apoio ao desenvolvimento da identidade profissional dos trabalhadores. Assim, a teoria de González Rey se mostra uma ferramenta valiosa para a construção de ambientes de trabalho mais humanos e significativos.


Referências

González Rey, C. (2002). O sujeito e a subjetividade: A perspectiva do paradigma da subjetividade (Vol. 1). Vozes.

Schein, E. H. (2010). Organizational culture and leadership (4th ed.). Jossey-Bass.

 
 
 

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